terça-feira, 30 de março de 2010

DIFICULDADES E ÊXITOS DE GALILEU : A LEI DA INERCIA - I

Perto do fim da obra Duas Novas Ciências, Galileu aborda o assunto do movimento do projéctil como se segue:
“Concebi mentalmente alguns móveis projectados num plano horizontal, sendo removidos todos os impedimentos. Agora é evidente, do que se disse algures com a maior convicção, que o movimento igual, [isto é, uniforme] neste plano seria perpétuo se o plano fosse de dimensão infinita.”

Mas no mundo da física de Galileu, poderá haver um plano de extensão infinita? No mundo real ninguém encontrará tal plano.
Ao discutir o movimento num plano, Galileu admite alguns obstáculos:
“Uma dessas dificuldades é que assumimos um plano inicial como horizontal, sem subir nem descer, e como uma linha recta – como se todas as partes de uma tal linha pudessem esta à mesma distância do centro, o que não é verdade. Quando nos movemos do seu ponto médio para as extremidades, esta linha afasta-se sempre do centro da Terra, pelo que está sempre subindo.”


Tal como na controvérsia da resistência do ar, Galileu quer saber, precisamente, qual pode ser o resultado de um factor que ele deseja ignorar. Que erro sucede de se encarar que uma pequena porção do globo é plana? Muito diminuto para muitos problemas.
O projéctil parecia explicar o princípio da inércia no plano horizontal. Mas agora é-nos dito que, se o movimento horizontal significa movimento ao longo de um plano tangente à Terra, este movimento não pode ser verdadeiramente Inercial, uma vez que, em qualquer direcção a partir do ponto de tangencia, o corpo, embora ainda se mova ao longo do plano, subirá! Evidentemente podemos adoptar a conclusão de que, se tal movimento é inercial e contínuo com velocidade constante, sem actuar uma força externa, o “plano” no qual o corpo se move, não é um plano verdadeiramente geométrico, mas uma porção de superfície da Terra, que pode ser tomada como plana, apenas em virtude do seu raio relativamente grande.



Para Galileu pareceria que o princípio da inércia era circunscrito; restringia-se a corpos em movimento descendente ao longo de segmentos de uma recta e terminavam na superfície da Terra. Ou então, ao longo de pequenas áreas na própria superfície do planeta. Porque o último movimento não segue uma linha recta verdadeiramente, o conceito de Galileu é muitas vezes referido como uma espécie de inércia circular. Mas isto é injustificado, já que atribui a Galileu um falso princípio; não há nenhuma espécie de inércia, que, por si mesma, sem a mediação de qualquer coisa mais, possa manter um corpo em constante movimento circular.

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